quarta-feira, 31 de outubro de 2018

A Faixa

Pode ser um marcação no piso para segurança de transeuntes, atravessada num gramado separa os campos de dois adversários, cruzando o peito de um cidadão, pode ser, no pulsar daquele coração que haja a indicação do futuro de uma nação ou até mesmo de sua destruição.
Era um bairro bem grande e nele habitavam milhares de famílias. Algumas poucas dispondo de condições sócio econômica financeira alta. Outras desfrutando de médias situações mas, a maioria usufruía de baixa ou baixíssima realidade social, urbana e centenas tinham seus casebres à margem de valas, sem o mínimo de higiene e, em muitos outros lares o ambiente era de palafitas.
No bairro, de período em período, alguns habitantes organizavam um concurso no qual, qualquer morador podia participar, contanto que morassem em casas pintadas com a mesma cor, independente se de alvenaria, prédio de apartamento ou casebre e, no bairro havia casas com várias cores e muitas pessoas se apresentavam para participar do concurso como o escolhido daquelas casas de cor idêntica e, nesse certame o morador que maior número de sim para si recebesse dos demais, passaria a ter direito de portar atravessada no peito e como representante de todos, independente da cor das casas, uma faixa.
Essa faixa lhe conferia a autoridade para falar por todo o bairro, inclusive portanto, por aqueles que lhe disseram não e por isso escolhido um outro morador da coletividade mas, com menor quantidade. A esse comportamento denominavam democracia.
Porém, nos últimos anos do concurso, alguns habitantes do bairro, iniciaram a dar fortes sinais de hidrofobia, cheios de ódio, pois muito agressivos, destruidores e grande parcela daquela sociedade passou a desaprovar aqueles comportamentos e atitudes destruidoras e, aquele grupo também apresentou no último concurso alguns moradores para representarem-nos.
Todavia, os moradores daqueles que pautam pelo entendimento do viver em paz e em harmonia, do trabalho, do produzir e construir e das ações que visavam o melhor para a coletividade, adotaram como mentor espiritual o Arquiteto do Universo, o Ser Supremo, Deus e, assim o morador representante dessa ala foi escolhido à portar por alguns anos aquela faixa, que deve ser da conciliação, do respeito e até mesmo, do puxão de orelha, quando necessário, daqueles que não desejam seguir as regras do bom e saudável viver dentro da comunidade.
E foi assim, mais uma vez que, um dos moradores foi escolhido para usar a faixa e que há anos é verde e amarelo, simbolizando a governança, a esperança daquela gente, e da administração dos interesses de cada um e de todos e também, principalmente, para promover o bem estar geral.
No entanto, ocorrida a última escolha, alguns insatisfeitos com o resultado, resolveram não acatar a opção da maioria e suas derrotas e por conseguinte curvar-se ante a vitória do morador preferido.
A comunidade dialoga, se entende e se comunica por uma modalidade de troca de informações chamada redes sociais, que seriam os sinais de fumaça de ontem nos dias de hoje e nestas, podem trocar informações quem aprova e quem desaprova o atual portador da faixa e assim, os que não aceitam o resultado passaram a convocar protestos e, com certa inteligência e maturidade, os que concordam com a escolha, imaginaram a pacifica, adulta e racional reação: não divulgar, não compartilhar as postagens de ofensas, xingamentos e portanto, não lhes dar dimensão que objetivam e, os reduzir a situação de perdedores ou de não escolhidos, que são.
O fato é que a faixa no peito de quem será colocada, tem o brilho de esperança no amanhã muito melhor, traz o afã para que muitos saiam das margens dos esgotos, acende a luz para que tantos encontrem emprego e renda dignos e principalmente, retire das ações na comunidade aqueles que se usaram dela em proveito próprio.
E assim a faixa que separa quem tem muito dos que nada tem, seja uma faixa estreita e não extremamente larga como é e, quem tem nada é que passe ter muito mais.
Lúcio Reis


Belém do Pará-Brasil, em 31/10/2018.

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