quarta-feira, 12 de dezembro de 2018


Descartáveis Vivos

Chega-se a conclusão, ante fatos concretos, portanto reais, que são noticiados e por isso de conhecimento de muitos, que inúmeros casais de pais, vem se tornando descartáveis - principalmente aqueles de gerações mais distantes -, como um garrafa ou copo de plástico jogados no mar da indiferença, alimentado e banhado pela fonte da ingratidão e até mesmo da insensibilidade.


No inicio o casal se esmera, exerce seu labor com afinco, proporciona a instrução colegial inicial e até no terceiro grau e, enquanto o tempo soma nas suas idades tanto dos pais quanto dos filhos, a modernidade também muda, evolui e a prole, com raras exceções, já não veem e nem tratam os pais como um farol aceso no monte a nortear a navegação do navio que se lançou ao mar da vida ou, não os consideram como bússola que os conduzirá ao porto seguro. Aliás, até uma certa idade, os pais são mesmo e com todas as cordas disponíveis esse porto seguro.


Constituem suas famílias e, quando o Senhor as amplia, inicia-se para os avós uma nova fase do viver, a qual, quando pais não puderam usufruir ou curtir, por que o trabalho lhes tomava muito ou integralmente o tempo, pois garantir o bem estar dos filhos em todos os sentidos, garantir-lhes o amanhã mais proveitoso ou profícuo era honrosa obrigação a ser cumprida integralmente e sem contestação ou desânimo.


Porém, quando é chegada essa fase, muitos filhos se acreditam os mais sabidos terráqueos, os maiores conhecedores de todas as manobras e soluções para qualquer dificuldade, por menor que seja e, por conseguinte os pais com o ganho de idade tudo desaprenderam e sequer são mais ouvidos ou, quando se arriscam a opinar são tratados com desdém ou até mesmo com deboche e as vezes ainda ganham um ralho.


E então, os velhos e experientes pais, são arremessados para lata do lixo como um manual de criação de filho, zêlo com a prole, orientação e educação de 2ª edição, posto que a dos filhos já é da atualíssima e contemporânea tiragem e que já alcança sua 20ª edição. Isto sem contar com os comportamentos sociais opostos aos costumes de outrora.


Conclusão, os velhos que ontem sentiam-se honrados, prestigiados e com seu valores em alta, como se fossem um papel de alta lucratividade e gerador de muios dividendos na bolsa de investimentos de valores da família, passam a não mais figurar no pregão diário, a não ser para tomar uma reprimenda da prole mal agradecida, intolerante, incompreensível e sem paciência, ante a simples investida de uma opinião dos velhos pais de cabelos brancos.


Por isso hoje em dia a depressão avança e os casos por ano aqui no Brasil somam mais de 2 milhões e, portanto, são pessoas, pais inclusive, com tristeza e pessimismo, que sequer tem condições de realizar uma tarefa e que há anos realizavam, como dirigir, por exemplo e isso, sem contarmos com os gestos extremos dando cabo na própria existência, pois não se atribuem mais algum valor humano.


O que mais intriga é que, quando chegamos a dezembro, testemunhamos pessoas desejando os mais felizes e venturosos votos de abençoado Natal e então, parece terem esquecido que ao longo do ano foram os algozes que contribuíram a que seus entes queridos passassem a usar medicamento tarja preta ante o difícil estágio que alcançaram.


Outro fato emblemático é quando o ente querido vai a óbito e, então testemunhamos também o teatro com a encenação e a representação teatral da cena mais repugnante, que é ver a prole se derretendo em lágrimas sobre o corpo frio do familiar na urna funerária, que ali está e chegou com a cooperação da prole que antes o matava pouco a pouco e todo dia em seus sentimentos de quem lhes gerou como ser humano.


Mas o homem tem em sua composição a ingratidão que em alguns aflora e não se desvencilha dela jamais, mesmo com os fortes sinais que dia a dia são mostrados e por isso, descartáveis humanos sempre existirão.
Lúcio Reis
Belém do Pará, Brasil-em 12/12/2018.









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