Descartáveis Vivos
Chega-se a conclusão, ante fatos concretos,
portanto reais, que são noticiados e por isso de conhecimento de muitos, que
inúmeros casais de pais, vem se tornando descartáveis - principalmente aqueles
de gerações mais distantes -, como um garrafa ou copo de plástico jogados no
mar da indiferença, alimentado e banhado pela fonte da ingratidão e até mesmo
da insensibilidade.
No inicio o casal se esmera, exerce seu labor
com afinco, proporciona a instrução colegial inicial e até no terceiro grau e,
enquanto o tempo soma nas suas idades tanto dos pais quanto dos filhos, a
modernidade também muda, evolui e a prole, com raras exceções, já não veem e
nem tratam os pais como um farol aceso no monte a nortear a navegação do navio
que se lançou ao mar da vida ou, não os consideram como bússola que os
conduzirá ao porto seguro. Aliás, até uma certa idade, os pais são mesmo e com
todas as cordas disponíveis esse porto seguro.
Constituem suas famílias e, quando o Senhor as
amplia, inicia-se para os avós uma nova fase do viver, a qual, quando pais não
puderam usufruir ou curtir, por que o trabalho lhes tomava muito ou
integralmente o tempo, pois garantir o bem estar dos filhos em todos os
sentidos, garantir-lhes o amanhã mais proveitoso ou profícuo era honrosa
obrigação a ser cumprida integralmente e sem contestação ou desânimo.
Porém, quando é chegada essa fase, muitos
filhos se acreditam os mais sabidos terráqueos, os maiores conhecedores de
todas as manobras e soluções para qualquer dificuldade, por menor que seja e,
por conseguinte os pais com o ganho de idade tudo desaprenderam e sequer são
mais ouvidos ou, quando se arriscam a opinar são tratados com desdém ou até
mesmo com deboche e as vezes ainda ganham um ralho.
E então, os velhos e experientes pais, são
arremessados para lata do lixo como um manual de criação de filho, zêlo com a
prole, orientação e educação de 2ª edição, posto que a dos filhos já é da
atualíssima e contemporânea tiragem e que já alcança sua 20ª edição. Isto sem
contar com os comportamentos sociais opostos aos costumes de outrora.
Conclusão, os velhos que ontem sentiam-se
honrados, prestigiados e com seu valores em alta, como se fossem um papel de
alta lucratividade e gerador de muios dividendos na bolsa de investimentos de
valores da família, passam a não mais figurar no pregão diário, a não ser para
tomar uma reprimenda da prole mal agradecida, intolerante, incompreensível e
sem paciência, ante a simples investida de uma opinião dos velhos pais de
cabelos brancos.
Por isso hoje em dia a depressão avança e os
casos por ano aqui no Brasil somam mais de 2 milhões e, portanto, são pessoas,
pais inclusive, com tristeza e pessimismo, que sequer tem condições de realizar
uma tarefa e que há anos realizavam, como dirigir, por exemplo e isso, sem contarmos
com os gestos extremos dando cabo na própria existência, pois não se atribuem
mais algum valor humano.
O que mais intriga é que, quando chegamos a
dezembro, testemunhamos pessoas desejando os mais felizes e venturosos votos de
abençoado Natal e então, parece terem esquecido que ao longo do ano foram os
algozes que contribuíram a que seus entes queridos passassem a usar medicamento
tarja preta ante o difícil estágio que alcançaram.
Outro fato emblemático é quando o ente querido
vai a óbito e, então testemunhamos também o teatro com a encenação e a
representação teatral da cena mais repugnante, que é ver a prole se derretendo
em lágrimas sobre o corpo frio do familiar na urna funerária, que ali está e
chegou com a cooperação da prole que antes o matava pouco a pouco e todo dia em
seus sentimentos de quem lhes gerou como ser humano.
Mas o homem tem em sua composição a ingratidão
que em alguns aflora e não se desvencilha dela jamais, mesmo com os fortes
sinais que dia a dia são mostrados e por isso, descartáveis humanos sempre
existirão.
Lúcio Reis
Belém do Pará, Brasil-em 12/12/2018.
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